Eu tava sentada na janela do pequeno apartamento que a minha Mãe e eu dividíamos num prédio velho, admirando a pintura de Brownsville que alguém tinha feito na parede do outro lado da rua.
Eu amava meu mundo. Meu bairro.
Brownsville era a minha casa. Eu cresci lá. Eu fiz tudo lá. Fazia parte de mim.
Eu virei e olhei pra minha Mãe na cozinha. Uma linda senhora afro-americana de quarenta anos. Fiquei olhando pra ela enquanto ela cozinhava o pouco que tínhamos.
Às vezes ela parecia tão deprimida e isso me doía, porque eu sabia o porquê.
A minha Mãe nasceu de um Pai americano e de uma Mãe camaronesa. Ela cresceu na América e como cidadã americana.
Ela cresceu e conheceu meu Pai durante uma festa organizada por uma amiga dela. Ele era israelita. Eles se conectaram imediatamente. Tiveram aquela faísca imediata e se apaixonaram.
Não muito tempo depois, meu Pai se casou com a Mãe, mesmo com a recusa da própria família dele.
Dois anos depois do casamento, eles me tiveram.
Tudo estava bem até alguns meses depois do meu nascimento, meu Pai morreu num acidente de carro, nos deixando sozinhas.
A família do meu Pai tomou tudo e todos voltaram pra Israel. Nos deixando desamparadas.
Até hoje, eu poderia dizer que minha Mãe ainda estava com muita tristeza, que ela tentava esconder de mim.
Mas eu conseguia ver. E eu prometi fazer minha Mãe feliz de novo. Eu ia tirá-la da pobreza e da miséria.
"Pssst! Pssst! Harlem!" Ouvi um sussurro alto da janela. Olhei pra baixo e lá estava uma das minhas melhores amigas, Yasmin. Sorri pra ela.
"Que tá fazendo? Desce aqui!" ela sorriu.
"Já vou!"
Levantei da janela e corri pro meu quartinho pra me trocar. Coloquei meus All Stars velhos e sujos, uma camiseta branca e outra camisa amarrada na cintura. Então prendi meu cabelo num rabo de cavalo de lado e saí correndo do meu quarto.
"Saindo com a Yasmin?" minha Mãe perguntou, sorrindo.
"Sim, Mãe. Vou trazer uns trocados se a sorte estiver do meu lado."
"Harlem, não faz nenhuma besteira."
"Não vou."
Beijei a bochecha dela e saí do apartamento.
*
Encontrei a Yasmin lá embaixo. Ela tinha amarrado o cabelo num coque e tava com um moletom cinza, jeans e All Stars tão velhos quanto os meus.
"Então, pra onde a gente vai?" ela me perguntou.
"Não muito longe. Vamos dar uma volta por aí. A gente pode encontrar alguém sem muita sorte."
"Que tal Manhattan, em vez disso?"
"Tem grana?"
"Não. Mas eu sei como a gente chega lá."
-
Eu e Yasmin andamos pelo bairro e fomos pra cidade, onde pegamos o metrô discretamente. E logo, estávamos num dos bairros de Manhattan.
Eu me encostei numa parede na rua enquanto eu e Yasmin observávamos silenciosamente quem passava.

Esperamos pacientemente até que nós duas avistamos um homem gordinho de uns cinquenta anos. Ele tava com uma maleta na mão e tava saindo de um prédio comercial. Perfeito.
"Olha o gordo", disse a Yasmin.
"Ele é bom."
"Vamos pegá-lo."
Atravessamos a rua casualmente e fomos em direção ao homem.
"Boa tarde, senhor", nós duas o cumprimentamos.
"Sim, boa tarde." Eu fiquei um pouco atrás dele enquanto a Yasmin ficou na frente.
"Senhor, por favor, estamos perdidas", ela mentiu.
"Sério? Onde vocês moram?"
"Brooklyn. Realmente não sabemos como acabamos em Manhattan e..."
Enquanto ela falava, atraindo toda a atenção dele, eu lentamente e discretamente estiquei a mão e tirei a carteira do bolso dele. Ele não sentiu nada!
Enquanto a Yasmin falava com ele, olhei pra ela e pisquei.
E imediatamente, nós duas saímos correndo. Correndo o mais rápido possível.
O homem confuso ficou se perguntando até que ele sentiu os bolsos e descobriu que a carteira dele tinha sumido!
"EI! EI! PARAAA!" ele gritou desesperado. Tarde demais. Já tínhamos ido.
Corremos por três ruas!
Uma vez em segurança, paramos pra abrir a carteira dele.
"Hã? Que porra é essa??" perguntei, com raiva.
"O quê?"
Puxei o único dinheiro que tinha naquela carteira e mostrei pra Yasmin.
"Dez dólares?!" Yasmin perguntou, surpresa.
"Dez dólares! Aquele otário tava todo arrumado com apenas dez dólares na calça??" Eu não conseguia acreditar nos meus olhos, e a Yasmin também.
De repente, ficamos muito irritadas.
"Amiga, a gente tem que voltar pra casa com cinquenta dólares cada. Tá comigo?" perguntei pra ela.
"Você me conhece."
"Vamos deixar algumas pessoas bem assustadas. Mas não muito. Não quero a polícia atrás de mim."
"Igual aqui. Agora vamos levar a sério."
Arrumamos as pequenas pistolas que colocamos na cintura dos nossos jeans. Sim, quando as coisas ficavam um pouco difíceis, eu preferia usar uma arma. Sem problemas. Era uma brincadeira que sempre praticávamos e, claro, minha Mãe não sabia.
Eu e a Yasmin conseguimos roubar mais umas três carteiras depois que exploramos outras ruas. Tomamos cuidado pra não sermos pegas.
Mas o que nos deixou realmente satisfeitas foi o último roubo.
Seguimos uma mulher bem vestida numa rua deserta. Já era noite, cinco e quinze, exatamente.
Ela virou numa rua tranquila e perigosa, sem saber que estávamos atrás dela.
Felizmente, depois do segundo roubo, compramos máscaras de palhaço de plástico por um dólar. Perfeitas pros nossos pequenos crimes.
Usamos as máscaras e nos aproximamos da mulher por trás.
"Olá", eu disse rapidamente, ficando na frente dela, bloqueando o caminho dela e apontando a arma diretamente pra ela.
A mulher congelou, com medo. Ela tentou se virar e escapar, mas a Yasmin estava lá, apontando uma arma também.
"Indo pra algum lugar?"
A mulher começou a implorar.
"P-por favor. Por favor! Leve tudo, poupe minha vida!"
"Eu gosto disso. Sua bolsa! Agora!" eu gritei pra ela.
Tremendo, ela jogou a bolsa pra mim.
Eu abri rapidamente.
Duzentos dólares. Sim!
Joguei a bolsa vazia pra ela e fiz um sinal pra eu e Yasmin corrermos.
Corremos o mais rápido que pudemos, tirando nossas máscaras e escondendo nossas armas, rindo o caminho todo como crianças.
-
Quando estávamos longe e seguras, paramos pra descansar um pouco. Estávamos sem fôlego.
"Uhu! Hahahahaha."
"Hahahah, foi divertido, no entanto", disse a Yasmin.
"Eu sei, né". Eu levantei, "Adivinha quanto eu peguei da bolsa dela", eu disse, sem fôlego.
"Quanto?"
"Amiga, duzentos dólares."
"Uau! No total, pegamos 250!"
"Sim. Vamos dividir os cinquenta pra nós. Os cem, a gente leva pra nossa mães."
"Sim. Vamos pegar umas Pringles e Pepsi. Tô morrendo de fome!"
Eu ri.
"Hahahaha, eu também."