Nayra
Mais um dia de estresse.
Esse estilo de vida que eu escolhi tava me matando aos poucos.
Esse apartamento porcaria tava quase caindo aos pedaços, eu tinha certeza disso.
Tirando os cobertores de cima de mim, fui pro banheiro fazer minha rotina matinal.
Depois de escovar os dentes, tomar banho e fazer outras coisas que preciso de manhã, entrei no meu quarto pra me secar e quem sabe tomar um café da manhã.
Indo pro banheiro, a madeira tava saindo aos poucos e, pra meu desespero, quando abri a geladeira, não tinha comida nenhuma.
Eu tava com fome e a busca por emprego não tava me dando paz.
No meu sofá, ouvi o barulho da mensagem no meu laptop.
O que mais podia estragar minha rotina matinal, se não ter comida já não tinha feito o suficiente?
Com preguiça, fui pro meu sofá e abri.
Da empresa Jvanv.
Que merda.
Me deram uma entrevista em duas horas.
Que porra!
Um emprego que eu me candidatei faz um mês e agora é que eles tão pensando em me chamar? Ah, não, nem chamar, mas mandar uma mensagem que eu tenho uma entrevista nas próximas duas horas?
Sempre foi meu sonho acordar um dia e falar:
"Tô trabalhando no prédio da Jvanv", mas acordar e ver que minha entrevista era em duas horas de ir embora da minha mão, foi um pesadelo.
Por um momento, congelei, sem saber o que fazer, e o tempo não ajudou em nada. Foi em câmera lenta, depois de cinco bons segundos, tudo voltou ao normal, um alarme tocando na minha cabeça.
Correndo pro meu armário pequeno, tirei um terno e uma blusa amarela pra ir.
Fui pros meus sapatos e escolhi ir com os saltos pretos.
Que eram simples, fáceis.
Se isso não me fizesse parecer profissional o suficiente, então eu não sabia o que poderia fazer.
Eu não tinha dinheiro pra comprar um café, nem tempo.
Calculando todo o tempo que eu ia gastar nessas ruas, eu gemi.
De onde eu morava pra chegar no prédio da Jvanv, era uma hora e meia de trem, se o trem não atrasasse ou o ônibus.
Ir a pé de onde eu morava até o posto de gasolina era dez minutos e o tempo pra entrar na fila pra comprar a passagem era mais um, então tecnicamente eu já tava atrasada.
Chegando na minha conclusão, decidi ir de estômago vazio e com uma dor de cabeça humilhante que tava me deixando miserável pro dia.
Andar no metrô era miserável, duas pessoas esbarraram em mim e algumas até me empurraram, o que foi agitado, adicionando o fato de que eu tava de salto alto.
Pra onde quer que eles estivessem indo, espero que tenham chegado lá atrasados depois de tropeçar e cair na lama, porque você simplesmente não pode empurrar uma pessoa sem um "com licença" ou um "desculpa" quando você faz isso.
Eu fiquei ali, admirando o prédio alto sem fim, cheio de vidros que o deixavam ainda mais lindo.
O segurança tava me olhando o tempo todo.
Eu não sabia se ele achava que eu era idiota, talvez, ou burra, mas ele me olhou estranho até que eu decidi me ajeitar.
Quando eu falei pra ele o que eu tava fazendo ali, ele me deixou entrar e até me deu as direções pra encontrar a recepção.
Ele não foi legal.
"Uum.. Oi", eu falei pra recepcionista que parecia agir como se eu nem estivesse ali, quando ela claramente me viu.
Se eu não estivesse procurando um emprego ali, eu teria dado um soco nela por me tratar tão mal.
Ela me olhou e voltou a digitar.
"Vá em frente, vire à direita, vai ter um elevador, depois aperte o trigésimo andar", ela disse sem nem me olhar.
Quase dando o dedo do meio pra ela, eu me acalmei.
Eu não ia ficar louca antes de conversar com meu chefe.
Eu peguei as direções que ela me deu.
E deixa eu te falar, a música do elevador me deu sono.
Parecia que eu não era a única ali.
Mais umas dez pessoas estavam ocupando a área de espera, que incluía homens e mulheres, e quando eu entrei, todas as cabeças se viraram pra mim.
Eu não olhei pra eles nem dei a satisfação de que eu me importava se eles me olhassem mal ou qualquer coisa, em vez disso, andei com confiança e rebolei como uma chefe.
A confiança sempre foi uma forma de mostrar que você não tava com medo e a maneira de ganhar respeito.
"Oi, eu sou Nayra Hotch", eu falei pra recepcionista.
"Oi, você parece tão familiar", ela disse, olhando pra mim direto nos olhos.
Merda, minha farsa tava indo embora.
Eu sorri, dando um passo pra trás.
Ela não podia me conhecer, senão tudo ia por água abaixo.
"Uumm, desculpa, senhora, mas deve estar enganada, nunca nos conhecemos", eu disse, dando um sorriso ainda maior.
Ela murmurou algo baixinho, mas balançou a cabeça.
"Eu sou Lena, aqui está seu script, você é a número dez na lista.
Desculpe por ficar por último, mas seu status de chegada é atrasado", ela disse, dando um sorriso de desculpas.
Eu mentalmente gemi, mas agradeci de qualquer forma.
Agora eu ia passar meu tempo ali me sentindo como um sapo morrendo.
A paciência era minha amiga, mas isso não significava que o tédio fosse.
Uma hora se passou e só metade deles já foi embora, eu tava ficando entediada a cada segundo que passava.
Eu olhei pras outras mulheres sentadas.
Uma parecia ter interesse na parede que estava na frente dela.
Outra tava ocupada digitando no telefone.
A digitação tava fazendo barulho no corredor silencioso, fazendo todo mundo ficar irritado e o que me impressionou foi como ela não parecia se importar.