Por que você não é a doente, né?
Por que você não é a que tá morrendo, ué?
O cara sussurrou as palavras mais cruéis, com a voz mais suave, perto do ouvido dela.
Mas ele não fazia ideia de que ela tava mesmo batendo as botas.
Sofia agarrou a barriga com força e se esforçou pra sair da cama.
A luz do luar entrava pela janela, destacando ainda mais a pele pálida dela.
Passos conhecidos ecoaram de fora da porta - era o João.
A Sofia não sabe da onde tirou forças, mas segurou firme na maçaneta e abriu a porta.
"João." Falar o nome dele quase consumiu toda a energia dela.
O João parou, virou e olhou pra mulher quase sem roupa com um olhar frio.
"Você voltou. Já comeu?" A voz dela tinha um tom cauteloso, de quem tava querendo agradar.
Um brilho acendeu nos olhos bonitos dela.
A expressão do João continuou fria e distante enquanto ele se virava pra sair.
Vendo ele daquele jeito, o coração da Sofia pareceu ser perfurado.
A Sofia correu atrás dele, pegando na manga da camisa dele. Os lábios dela estavam mordidos até sangrar, e as dores fortes na barriga dificultavam a respiração.
"Larga!" Os olhos do João soltavam fogo.
A Sofia afrouxou a mão, só ousando segurar num cantinho da camisa dele.
"João, tô sentindo dor..." A voz dela tremia. "É tarde demais. Você pode me levar pro hospital?"
Se fosse de dia, ela não ia encher o saco dele.
"Onde tá doendo?" O João virou e encarou ela com atenção.
"Minha barriga." Gotas de suor se formaram na testa dela.
O João olhou pra mão dela cobrindo a barriga e, de repente, zombou. "Srta. Sofia, sua atuação tá ficando mais realista a cada dia. Quanto tempo você ensaiou pra isso?"
Ele levantou a mão e puxou a manga da camisa, soltando ela.
Ele pegou no queixo dela. "Desde o dia que você me traiu, o João jurou nunca te perdoar nessa vida, a não ser..."
O João abriu um sorriso cruel. "Que você morra."
O sangue da Sofia pareceu congelar naquele momento. Ela não conseguia parar de tremer, e o João não olhou pra ela de novo, indo direto pro quarto e fechando a porta.
Parecia que uma faca tava torcendo na barriga dela, fazendo a Sofia se dobrar de dor.
Ela pegou o celular com a mão tremendo e discou 112.
O João continuou com a expressão fria, ouvindo o som da ambulância sumindo. A Sofia não ia parar por nada pra alcançar os objetivos dela.
Isso era só mais um dos esquemas dela pra ficar na família Jones, considerando que a família Thomas tava quase falindo.
Ela era o tipo de mulher que mudava de lado quando alguém se dava mal, então como ela ia aguentar uma vida difícil?
...
A Sofia sentou num banco do hospital segurando os resultados dos exames, com o olhar fixo na parede branca.
Os resultados tinham chegado - ela tava com câncer colorretal avançado.
A Sofia pegou um táxi pro hospital onde a Mia trabalhava. A Mia atendeu a ligação dela e encontrou ela na entrada do hospital.
Os olhos da Sofia estavam vermelhos enquanto ela dava um sorriso pra ele.
"Mia." Ela apertou os resultados dos exames. "Os meus resultados chegaram. O médico disse que eu tô com câncer colorretal avançado."
A Mia mudou a cara.
O nariz dela formigou, e ela olhou pra Mia com olhos de súplica. "Você pode me examinar de novo? Talvez... eles erraram?"
A Mia era médica, especialista em gastroenterologia.
A Sofia foi levada pra sala de exames de cadeira de rodas.
Às 17h, os resultados voltaram, confirmando o diagnóstico inicial.
Câncer colorretal avançado.
A Sofia sentou lá, atordoada, com os lábios tremendo. "Quanto tempo eu tenho?"
A Mia se agachou, com os dedos magros pressionando os ombros dela. "Sofia, eu vou te salvar."
"Câncer", as lágrimas da Sofia caíram. "É câncer."
A doença dela era como o casamento dela com o João - não tinha cura.
O quarto tava meio escuro quando a Sofia sentou no sofá sem acender a luz.
À meia-noite, os faróis dos carros furaram a escuridão e o vidro, jogando luz pra dentro.
Logo, a porta abriu, e o João entrou.
Ele esticou a mão pra acender a luz, notando imediatamente a Sofia sentada lá em silêncio.
Ele desviou o olhar, desamarrando a gravata enquanto andava, se preparando pra subir.
"João", ela chamou.
Ele não parou.
Os dedos da Sofia apertaram, as unhas cravando na palma da mão. Depois de um longo silêncio, ela levantou a cabeça, olhando pra as costas dele com um sorriso.
"Vamos nos divorciar."
O João finalmente parou e se virou como ela queria. A figura dele, contra a luz, fazia com que ele parecesse ainda mais insensível.
O olhar da Sofia seguiu o rosto dele. Esse era o cara que ela tinha amado por dez anos. Dez anos de amor tinham garantido o desgosto dele e deixado ela com o coração partido.
Ela não devia mais arrastá-lo pra baixo.
"Você não consegue passar um dia sem causar problema, né?"
Ela tava só fazendo cu doce.
A Sofia se levantou e puxou o acordo de divórcio da bolsa dela. A mão dela encostou nos analgésicos dentro, fazendo os olhos dela arregalarem por um momento.
Então ela fechou a bolsa em silêncio e deixou de lado.
Ela foi até o João e entregou o acordo de divórcio pra ele.
Já tava assinado com o nome dela.
Ela tentou esconder as emoções. "Você queria casar com a Emília, né?"
Ela forçou um sorriso. "Eu vou fazer acontecer pra você."
Se ela soubesse que ele gostava da Emília, nunca tinha casado com ele.
O casamento deles foi forçado e unilateral da parte dela.
O João olhou pra assinatura dela e pegou o acordo de divórcio.
Ele encostou a língua na bochecha e bateu o papel no ombro dela.
"Srta. Sofia, fiel à sua formação em finanças." Ele se aproximou, com os olhos frios. "Quanto da fortuna da família Jones você pretende levar nesse divórcio?"
A Sofia ficou chocada por um momento. Ela juntou os lábios e sussurrou: "Eu nunca quis seu dinheiro."
O João não falou nada, só olhou pra ela friamente.
Três anos atrás, a família Jones enfrentou uma crise quando o pai dele foi preso e todos os negócios dele foram vendidos pra pagar as dívidas.
Naquela época, ele tava sem um tostão, e essa mulher que dizia amá-lo sumiu no dia seguinte depois do sofrimento dele.
Mais tarde, ele ouviu dizer que ela tava em todo lugar com o William.
A família Brown foram os que armaram pra prender o pai dele.
O pai dele tinha sido tão gentil com a Sofia.
Mas ela era só uma mulher que se vendia por dinheiro. O que ela não podia fazer?
E a Sofia, sei lá o que ela contou pro pai dela, forçou ele a casar com ela.
"Sai daqui", os olhos dele estavam cheios de frieza.
Ele se virou pra sair, mas a Sofia esticou os braços pra bloquear o caminho dele.
"Você não gosta da Emília? Eu vou fazer acontecer pra você. Eu vou assinar um affidavit. Eu não vou pegar um centavo seu!"
"Sim, eu gosto da Emília", disse o João, com os olhos apertando e os lábios formando um sorriso. "Então eu vou fazer uma entrada triunfal pra ela se tornar minha esposa."
Ele franziu os olhos. "Não enquanto eu estiver enrolado com você."
O som da porta batendo ecoou quando o João entrou no banheiro. Água fria caiu em cascata enquanto ele comprimia os lábios e fechava os punhos.
A Sofia se virou e pegou o acordo de divórcio do chão.
O telefone tocou, e era a mãe dela chorando do outro lado.
O pai dela tava muito doente e tinha sido internado.
A Sofia correu pra lá e soube pela mãe dela que a família Thomas tava falindo, causando uma doença grave no pai dela.
De repente, ela se lembrou das palavras do João.
Divorciar-se dele pra pegar quanto da fortuna da família Jones.
Não é à toa que ele disse isso. Ele deve ter sabido que a família Thomas tava falindo.
A Jennifer agarrou os braços finos da Sofia. "Sofia, vai pedir pro João. Você é a mulher dele. Ele não vai te recusar."
"Ele me odeia tanto", disse a Sofia, com os lábios curvando em um sorriso sombrio. "Por que ele ia me dar dinheiro?"
A Jennifer deu um tapa na cara da Sofia. "Você quer ver seu pai morrer? Que inútil você é?!"
Os lábios da Sofia tremeram enquanto ela olhava pra mãe com olhos frios.
Quando a família Jones tava com problemas, o William se aproximou dela, dizendo que tinha provas da infidelidade da mãe dela. Ele também disse que se ela largasse o João, ele ia dar uma grande quantia em dinheiro pra ajudar o João a pagar as dívidas dele.
Ela assistiu o João lutando com os problemas do pai dele sem ter o que fazer.
Só podia se preocupar.
Naquela época, ela pensou que, contanto que pudesse ajudar o João, não importava se ele a entendesse mal.
Ela pegou o dinheiro do William pra ajudar a família Jones a tapar o buraco financeiro.
Ela disse palavras duras e machucou o João.
Ela nunca esperava cruzar com o João de novo.
Um dia, o pai do João conversou com ela. O homem na cama do hospital lutava até pra respirar.
Ele esperava que ela casasse com o João, dizendo que entendia a situação dela.
Naquela época, a Sofia não concordou.
Mas no dia seguinte, a família dela recebeu uma grande quantia em dinheiro da família Jones.
Forçado pelo pai dele a casar com ela, o João a odiava com todas as forças dele.
A Sofia saiu do quarto do hospital e engoliu um analgésico.
Enquanto ela levantava o pé pra sair, ela notou uma mulher vestida com um camisolão do hospital parada do lado.
A mulher tinha a pele bem pálida, com olhos redondos e grandes, e um nariz e boca delicados.
O nome dela era Emília, a mulher que o João agora amava, e que um dia foi a melhor amiga dela.
A Sofia desviou o olhar e se virou pra sair.
"Sofia", a Emília chamou por ela.
A Sofia cerrou os dentes e continuou andando.
De trás dela veio a risada da mulher, "Ouvi dizer que os Thomas estão quase falidos."
Ela alcançou a Sofia, parando bem na frente dela e disse friamente: "Quem faz, recebe."
A Sofia olhou pra ela friamente e disse: "Cai fora."
A Emília não se chateou. Pegando as unhas casualmente, ela disse: "Você é bem desprezível, se agarrando ao João mesmo que ele não te queira mais."
Os olhos dela brilharam com triunfo: "Você sabia? O João tá do meu lado nos últimos dias."
"Você quer a posição de Sra. Jones, não quer?" Os lábios da Sofia se apertaram. "Diga pra ele vir conversar comigo sobre o divórcio."
Os olhos da Emília se apertaram, "Você não acha que ele não tá se divorciando de você porque ele não consegue te esquecer, acha?"
A Emília caiu na gargalhada, "Sofia, você é tão ingênua."
Ela se aproximou da Sofia, "Ele só tá fazendo isso pra se vingar de você, pra te fazer sentir a mesma coisa."
"Quando ele se cansar de você, você não vai ser diferente de lixo." A Emília sussurrou no ouvido dela, "Ah, é, ele nem te tocou, né?"
Os dedos da Sofia apertaram. Ela abaixou a cabeça e olhou pra Emília com um olhar frio.
"Você sabe por quê?" A unha da Emília traçou lentamente a bochecha da Sofia, "Porque ele acha que você é suja. Ouvi dizer que o dinheiro que você usou pra pagar as dívidas dos Jones foi, na verdade, a taxa de separação que você deu ao João, e também o que seu amante William te deu."