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ARCHISHA
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Eu tava indo pra casa, voltando do mercado, quando, de repente, um carro em alta velocidade me encharcou de lama, sujando todo o meu vestido.
A **mãe** tinha me dado esse vestido ontem e agora tá arruinado, por causa do idiota que não sabe dirigir direito. Eu larguei a sacola com as compras no chão, olhando pro meu vestido, pensando no que fazer. Mordi os lábios de raiva, tentando processar o que tinha acabado de acontecer e como eu ia continuar o resto do caminho pra casa, parecendo que tinha dançado na lama.
O carro parou a poucos metros de onde eu tava e a porta abriu, revelando um **homem**, provavelmente na casa dos quarenta. Olhando pra ele, dava pra ver que ele parecia meio arrependido e aterrorizado ao mesmo tempo.
"Me desculpa, moça. Não queria estragar seu vestido. O **Mestre** mandou eu dirigir rápido e eu só tava seguindo as ordens dele", ele explicou, com as mãos juntas. Senti a raiva diminuir, fiquei com pena dele.
"Tudo bem, senhor. Não se preocupe comigo", eu disse, tentando soar o mais calma possível.
"Talvez eu devesse pagar o vestido", ele disse, tirando um dinheiro da camisa.
"Não precisa fazer isso", eu gentilmente afastei a mão dele. "O senhor é mais velho e já pediu desculpas, então não precisa disso."
"Obrigado–"
"O que você ainda tá fazendo aí?", uma voz nos assustou, fazendo o **homem** dar um pulo de medo. "Era pra eu estar em casa e você tá aí, trocando gentilezas. E se eu te demitir agora?", ele gritou.
O **homem** rapidamente se ajoelhou, implorando por misericórdia. "Por favor, não me demita, senhor."
"Que falta de educação", eu me peguei dizendo. Ele me olhou com os olhos arregalados.
"Como é?"
"Como você pode ser tão mau? Ele já pediu desculpas e você não quer nem ouvir. É assim que você foi criado?", eu levantei um pouco a voz pra ele me ouvir.
"Talvez você não tenha crescido na Índia, mas toda criança indiana sabe que é dever de uma criança respeitar um mais velho", eu gritei.
"Cala a boca. Eu não tava falando com você, então não precisa se meter."
"Ah, é mesmo? A gente também não tava falando com você. Foi você que colocou ele nessa enrascada em primeiro lugar. Se você não tivesse mandado ele dirigir mais rápido, talvez ele não estivesse aqui pedindo desculpas pelos seus erros", eu continuei.
"Escuta aqui, moça. Você não sabe quem eu sou."
"E eu não tô nem aí pra saber. Não é como se você pudesse mudar a lei com seu dinheiro. E também não é como se você pudesse me calar com ele", eu disse, pegando minhas compras do chão.
"É assim que as mulheres indianas são criadas?", ele murmurou pra si mesmo, mas alto o suficiente pra eu ouvir.
"Se falar a verdade e colocar um canalha no lugar dele é desrespeito nos seus livros, então sim, é assim que somos criadas e eu sou muito desrespeitosa e, se você tentar demitir esse **homem**, eu vou fazer uma denúncia na delegacia e te prender", eu ameacei.
Ele me lançou um olhar mortal.
"Você tá me ameaçando?"
"Sim", eu respondi. "E não pense que eu não tenho provas. Eu simplesmente vou mostrar esse vestido pra polícia e dizer que você me atropelou com seu carro. Aí a gente vai ver quem vai rir por último", eu sorri. Sentindo-se derrotado, ele correu pro carro e fechou a porta.
"Obrigado, minha filha. Que o Todo-Poderoso te abençoe", ele disse, gentilmente batendo na minha cabeça.
"Você pode ir. Ele não vai fazer nenhuma besteira", eu garanti a ele e ele foi embora com um sorriso. Eu me afastei, dando mais uma olhada no rosto dele quando o carro foi embora.
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**SHAURYA**
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"Sr. K, chegamos", o motorista disse, me tirando dos meus pensamentos. Olhei pro meu relógio e já passava das dezesseis horas.
Eu não conseguia parar de pensar em tudo que ela disse, ela ousou me ameaçar. Eu vou mostrar pra ela quem eu sou. Ela que reze pra Deus pra nunca mais me ver, senão ela vai se arrepender.
Eu desci e meus olhos vagaram pela casa. Faz vinte anos que eu tô fora, tudo parece exatamente igual. Nossa casa em Narela, o jardim, tudo. Eu nunca quis ir embora, mas o **pai** disse que seria melhor se eu estudasse em Singapura antes de voltar pra casa pra assumir os negócios da família. Mas agora, essa é a menor das minhas preocupações, eu não vejo a hora de encontrar ela de novo.
"**Mãe**, **SHAURYA** chegou!", minha irmãzinha **Avni** grita assim que me vê. Ela corre pros meus braços, me dando um abraço apertado.
"**Avni**, você tá bonita", eu digo com um sorriso.
"E você tá muito gato. Não vejo a hora de me gabar de você pra todas as minhas amigas. Elas vão ficar com inveja", ela diz e eu dou risada.
"Deixa ele, **Avni**. Meu filho voltou depois de vinte longos anos. **Manish**, por favor, traga a bandeja de oferendas pra gente dar as boas-vindas a ele", ela ordena e, depois de alguns minutos, ela foi trazida. Ela fez o ritual e me deu alguns doces. Eu me abaixei pra tocar nos pés dela, mas ela me impediu no meio do caminho. "Que Deus te abençoe, meu filho", ela disse antes de me dar um abraço apertado.
"Como foi em Singapura? Pode me contar tudo?", **Avni** pergunta, mas foi silenciada pela **mãe**.
"Primeiro, deixa ele tomar banho e comer, depois você pode fazer quantas perguntas quiser, tá bom?"
"Tudo bem, **mãe**", **Avni** respondeu, se sentindo triste, então eu baguncei o cabelo dela com as mãos.
"Irmão. Levei duas horas pra deixar assim", ela reclamou.
Eu revirei os olhos pra ela e ela riu.
"Sobe e toma banho, o **Manish** vai cuidar da bagagem. Depois você pode jantar com o resto da família. Eu já liguei pro seu **pai** e ele já já tá chegando", ela disse.
"Tudo bem, **mãe**", eu beijei a bochecha dela e subi.
Eu tomei um banho rápido, troquei de roupa e desci pra jantar.
"**Shaurya**, meu filho."
"**Vovó**", eu beijei as bochechas dela. "Como você tá?"
"Como você pode ver, eu tô linda, diferente da sua **mãe**, **Simran**", ela disse e todos nós rimos.
"Bem-vindo de volta, meu filho", o **pai** cumprimentou.
"É bom estar de volta, **pai**."
"Finalmente você pode assumir de mim e a empresa vai ser muito bem-sucedida."
"**Raj**, fala com a **Simran** pra gente encontrar uma noiva pro meu neto, eu não tô ficando mais nova."
"Ah, **vovó**, agora não, por favor. Eu acabei de voltar", eu protestei.
"Vocês, crianças dessa geração, sempre demoram em tudo. No meu tempo, uma noiva já estaria casada com você antes mesmo de você voltar."
"Não se preocupe, **mãe**. **Shaurya** vai se casar. Vamos dar um tempo pra ele, tá bom?", a **mãe** disse e eu sorri.
"Seja o que for, mas ele também não tá ficando mais novo."
"Eu sei, **mãe**, mas não podemos forçar as coisas. Meu filho vai se casar quando estiver pronto."
"Obrigado, **mãe**."
Ela beijou minhas bochechas.
"Coma antes que a comida esfrie", ela disse antes de se sentar.
Eu com certeza vou me casar, assim que eu encontrar ela...
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AMOR COM BENEFÍCIOS
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