Clarice estava com sede. Ela precisava beber água, mas tava difícil segurar o copo com as mãos fraquinhas. Tentou de novo e dessa vez conseguiu, mas as mãos tremeram tanto que o copo caiu, espalhando água no vestido. O copo rolou e caiu no chão com um estrondo, espalhando cacos por tudo.
Droga! Ela se sentia inútil e sem esperança.
Lágrimas de frustração encheram os olhos dela. Por que ela tinha acabado assim?
Por quê?
Por que ela tinha ficado tão fraca e doente?
Ela costumava ser saudável, cheia de energia e era considerada a Luna mais linda de todo o Distrito Leste, a inveja de todas as mulheres. Ela tinha o respeito de todo mundo, mesmo não tendo um lobo.
Mas as coisas mudaram há seis meses, quando ela e a outra Luna foram caçar na floresta e ela foi picada por um inseto que ninguém sabia de onde veio. Quando a caçada acabou, ela teve febre alta por uma semana, começou a ter erupções cutâneas por todo o corpo e a saúde dela piorou desde então. Nenhum remédio conseguia curá-la, o que deixava ela e o marido, Alfa Bruce, muito confusos.
Todos os médicos humanos que a examinaram disseram a mesma coisa: o corpo dela não aceitava nenhum tipo de remédio e ela não podia ser curada por nenhum remédio, nem feito por humanos, nem por xamãs.
A partir daquele dia, a vida dela nunca mais foi a mesma. Ela não podia sair do quarto. Ficou de cama e não via o sol há muito tempo. Com a pele grudada nos ossos, parecia um esqueleto, uma sombra do que costumava ser.
A porta abriu e a Lorey, a empregada de confiança dela, entrou no quarto com uma bandeja de comida de madeira.
"Luna, trouxe sua sopa de galinha e pão favoritos", Lorey disse animada, mas suspirou quando viu o copo quebrado no chão.
Ela colocou a bandeja na mesa, pegou a vassoura e a pá na esquina e começou a varrer os cacos de vidro, jogou os pedaços na lixeira no canto e depois passou o pano no chão.
"Desculpa pela bagunça, Lorey", Clarice pediu, com os olhos marejados, se sentindo tão sem esperança.
Lorey olhou para a Luna morrendo, com pena. "Não precisa pedir desculpa, Luna. É meu trabalho. É minha responsabilidade te servir", ela respondeu gentilmente, indo até o armário para pegar um conjunto de roupas para a mulher que estava de cama.
"Onde está meu marido? Onde está o Alfa Bruce?" Clarice perguntou. "Ele nunca mais me visita no meu quarto", ela perguntou tristemente. Sua voz estava cheia de tristeza. Já fazia quatro meses que ela não via o marido.
Lorey mordeu o lábio inferior. Ela não tinha coragem de contar à Luna moribunda que, naquela noite, o Alfa Bruce ia se casar com outra mulher e nomeá-la como a nova Luna da alcateia. Ela estava muito triste com o que estava acontecendo, como se o destino estivesse tirando de Clarice sua dignidade e tudo o que ela tinha de mais importante no coração.
"Acho que seu marido está em uma viagem de negócios, Luna. Não o vejo por perto da mansão há vários dias..." Lorey respondeu, sentindo-se culpada por inventar uma mentira. "Vamos trocar de roupa primeiro antes de tomar café da manhã", ela disse, mudando de assunto.
"Não. Vou comer primeiro. Quero melhorar para poder acompanhar meu marido na viagem pelo distrito", Clarice disse, tentando sentar, mas com dificuldade. "Por favor, me dá aquela tigela de sopa."
Lorey suspirou e olhou preocupada para a tigela de sopa. Ela tinha visto o xamã colocando um pó branco na tigela de sopa na semana passada. Quando entrou na cozinha, o xamã a repreendeu com raiva por não bater na porta antes de entrar na cozinha. E quando ela perguntou qual era o nome do pó que ele tinha colocado na sopa, o xamã explicou que era um remédio novo e poderoso que ele tinha inventado para curar a Luna acamada.
Mas ela viu algo brilhando nos olhos do xamã. Ele tinha aquele olhar maligno. De repente, o coração dela bateu rápido no peito, indicando que o xamã estava aprontando alguma coisa. Uma suspeita nasceu e cresceu rapidamente em seu coração.
Por que a saúde de Clarice não melhora, apesar de consumir religiosamente o remédio criado pelo xamã?
E se o xamã misturasse veneno na comida da Luna todos os dias?
Ela tinha pensado naquela suspeita que tinha sobre o xamã, e ela ficou mais forte na mente dela por um tempo. Mas ela não podia contar para ninguém sobre sua suspeita porque poderia ser morta por difamar um oficial superior da alcateia. Mas ela não aguentava mais.
Lorey correu para a cama e sussurrou no ouvido de Clarice, "Luna, acho que sua comida foi envenenada pelo xamã", ela disparou.
Os olhos de Clarice se arregalaram de choque. Seu coração estava batendo rápido no peito. Ela olhou para a empregada, chocada com a acusação. "Do que você está falando? O que te fez pensar em uma coisa dessas?" ela perguntou em voz baixa.
"Porque eu vi o xamã colocando pó branco na tigela de sopa na semana passada. Quando perguntei qual era o nome do pó, ele me repreendeu furiosamente e me disse para bater na porta antes de entrar na cozinha. Por uma fração de segundo, vi seus olhos brilharem com intenção assassina", Lorey explicou em voz baixa.
Clarice ficou chocada com a revelação da empregada.
A suspeita de Lorey é correta?
Ela nunca pensou que alguém pudesse envenenar sua comida. Ela era boa e justa com todos. Tratava todo mundo da mesma forma. Ela não tem inimigos. Ela é a Luna perfeita que todos respeitam e admiram. Como alguém poderia envenená-la?
Mas por quê?
Será que é verdade?
"É impossível", Clarice disse em negação. Lágrimas encheram seus olhos quando uma suspeita começou a surgir em sua mente.
As duas mulheres ficaram em silêncio, suas mentes submersas em pensamentos profundos.
Lorey quebrou o silêncio desconfortável entre elas e disse: "Luna, você já tomou toneladas de remédios, mas não está melhorando, não importa o quanto você se esforce. Você come alimentos saudáveis e toma seus remédios religiosamente todos os dias, mas ainda não há resultados positivos. Não importa o que você faça, você não consegue melhorar. Você não percebeu ainda?"
Clarice balançou a cabeça quando a realidade a atingiu como uma tonelada de tijolos. Na verdade, apesar de seus melhores esforços, ela não estava melhorando. Ela continuava comendo alimentos saudáveis e tomando remédios diariamente, mas sua saúde não melhorava, e agora ela sente que está morrendo. Ela suportou seis meses de vômitos, falta de apetite e alucinações à noite, e agora esta semana sente que vai morrer. Às vezes, ela tinha dificuldade para respirar. Ela podia sentir o espírito da morte esperando do lado de fora da porta para coletar sua alma, esperando seu último suspiro.
Ela olhou para a tigela de sopa que o xamã havia preparado para ela. "Como saber se a sopa está envenenada?" ela perguntou para a empregada.
Lorey balançou a cabeça. "Não sei, Luna. Não tenho habilidades especiais para saber se a comida está envenenada ou não."
Provar que a sopa está envenenada vai ser difícil, já que a sopa e a papa que ela come todos os dias têm o mesmo gosto.
Hum...
O que fazer?
Clarice continuou olhando para a tigela de sopa. Se as suspeitas de Lorey estiverem corretas, a tigela de sopa que ela come todas as manhãs acabará matando-a. É só questão de tempo. Não. Ela não pode morrer ainda. "Lorey, vá ver se meu marido já chegou em casa. Diga a ele para vir ao meu quarto imediatamente. Quero dizer a ele que o xamã está me envenenando há muito tempo. Quero que ele investigue isso imediatamente. Vá rápido!" ela ordenou urgentemente.
Lorey estava muito angustiada, coçando a cabeça desconfortavelmente. "Hum, Luna, sinto muito em dizer isso... mas a razão pela qual o Alfa Bruce não te visita mais é porque o xamã disse a todos que sua doença é contagiosa, e sua doença pode ser transferida para outra pessoa em tão pouco tempo. Seu próprio marido tem medo de ser infectado com sua doença", ela explicou tristemente.
Os olhos de Clarice se arregalaram de surpresa. "Isso é uma grande mentira! Você está ao meu lado há seis meses, cuidando de mim todos os dias, e dorme no meu quarto todas as noites. Como você nunca foi infectada com minha doença?" Sua voz enfurecida vibrou pela sala.
Lorey respirou fundo. "Eu discuti com eles que não era verdade, mas eles nunca me ouviram", ela respondeu com desalento.
Clarice estava desesperada. Se o xamã conseguiu com a intenção de matá-la, ninguém vai saber que ela estava sendo lentamente envenenada por aquele criminoso. Ela acabará morrendo e não poderá fazer justiça a si mesma!
Eles vão apenas pensar que ela morreu por causa de sua doença incurável.
Lorey estava se remexendo na cadeira, parecendo nervosa. Ela estava hesitando em informar a Luna Clarice que ela já havia sido destronada como Luna da Alcateia Bloodhound na semana passada e, naquela noite, a nova Luna assumiria seu lugar. Ela temia que, se Clarice soubesse das más notícias, ela morreria instantaneamente devido ao choque e à dor no coração.
Clarice estava ocupada pensando em uma maneira de informar seu marido sobre sua suspeita, quando seus olhos pousaram no rosto de Lorey, ela notou sua inquietação. "O que foi? Por que você está parecendo ansiosa?" ela perguntou.
Lorey respirou fundo. Ela finalmente decidiu revelar a verdade antes que fosse tarde demais. "Hum, Luna, há algo que você precisa saber sobre seu marido..."
O fôlego de Clarice vacilou quando ela viu a severidade da tristeza no rosto de Lorey. Ela teve a sensação de que o que estava prestes a ouvir ia quebrar seu coração em um milhão de pedaços. "O que é? Me diga agora!"
Lorey suspirou pesadamente. "Na semana passada, seu marido já te destronou, e você não é mais a Luna da nossa alcateia. Ele já escolheu uma nova Luna para ocupar seu lugar e, nesta noite, a nova Luna vai subir ao trono em uma cerimônia de casamento luxuosa. Sinto muito por só te contar sobre isso hoje. Tenho medo que você caia em depressão e morra de ataque cardíaco depois de saber a verdade", ela disse, arrependida.
A má notícia explodiu nos ouvidos de Clarice como uma bomba, estilhaçando seu coração em pedacinhos. Ela teve dificuldade para respirar. Seu coração estava sendo espremido dolorosamente em sua caixa torácica. Um rosnado de dor irrompeu de seus lábios. Lágrimas encheram seus olhos. Ela só podia uivar de raiva e consternação. "Como meu marido pode fazer isso comigo? Como ele pode me trair assim? Eu ainda estou viva!"
Ela rangeu os dentes de raiva, furiosa com a traição e a intriga que estavam acontecendo ao seu redor.
Ela fechou os olhos quando uma avalanche de lágrimas ameaçou escorrer de seus olhos.
As lágrimas de Lorey rolaram por suas bochechas. Ela se arrependeu de contar a verdade para sua patroa. "Luna, você tem que sobreviver à dor da decepção. Você tem que continuar vivendo!" Ela chorou em desespero.
"Eu ainda estou viva! Mas eles me trataram como se eu já estivesse morta!" Clarice gritou em voz alta como um animal ferido. Seus olhos estavam inchados de lágrimas.
Depois de saber sobre seu destronamento, ela sentiu que todas as suas boas ações no passado tinham sido ignoradas e desperdiçadas. A traição de seu marido a machucou profundamente.
Seu coração estava sobrecarregado de tristeza. Ela estava sem fôlego.
Entrando em pânico, Lorey correu para a mesa e rapidamente despejou água no copo. "Luna, beba a água rápido", ela disse urgentemente.
Clarice obedeceu e bebeu a água.
Lorey colocou o copo vazio na mesa lateral. Ela de repente se lembrou do café da manhã intocado na mesa. "Luna, você quer comer o café da manhã agora? Acho que o pão não está envenenado", ela afirmou casualmente, tentando mudar o assunto deprimente da conversa.
Clarice olhou para a bandeja de comida e balançou a cabeça. "Não. Vou pular o café da manhã hoje. Não estou com apetite."
"Posso pegar umas frutas na cozinha", Lorey ofereceu.
Clarice balançou a cabeça novamente. Qual é o propósito de viver se seu marido já a abandonou? O mundo dela simplesmente desmoronou. Ela de repente perdeu a vontade de continuar vivendo.
Espera...
Quem é a nova esposa?
"Me diga, quem é a nova Luna?" Clarice perguntou, quebrando a cabeça amargamente. Quem é capaz de substituí-la em seu trono?
Lorey mordeu o lábio nervosamente.
"Rápido! Me diga, quem é ela?" Clarice perguntou desesperadamente, soando como um animal ferido.
"É sua melhor amiga, Aurélia", Lorey respondeu tristemente.