Ajeitei o vestido azul de formatura e arrumei a touca que estava meio fora do lugar. Olhando em volta pra ver se via alguma cara conhecida, fiquei mexendo na cordinha pendurada no meu chapéu de formatura, tentando tirar o nervosismo do sistema.
'Boa, Case. Você consegue lutar na rua como se fosse andar de bicicleta, mas nem consegue andar com as costas retas e uma cara de confiante nesses saltos,' minha consciência me zoou.
Eu suspirei, a voz na minha cabeça tá certa, isso é burrice. Se liga, Case.
Era como se, desde que eu saí daquele hospital, tudo na minha vida tivesse desmoronado e tudo que eu tinha planejado perfeitamente foi pro ralo. Eu não era mais a mesma Cassandra. Depois de tudo que aconteceu, de ser a garotinha que se perdeu nesse mundo até aquela garota que lutou pela vida, eu fui reduzida a simplesmente ser aquela garota que está tentando sobreviver.
Minha mente decidiu vagar pra noite anterior, onde eu tive a ligação fora de hora com Preston.
'O que aconteceu? Ele está bem?' eu perguntei sem cumprimentos, como sempre. A voz do Preston estava dura e eu ouvi a tensão nela, diferente do tom calmo de sempre quando a gente faz essa ligação semanal.
'Tá feia a coisa, Case. A gente não sabe mais onde ele está. No começo, a Cali percebeu que ele nunca estava no quarto depois de uma semana que ele teve alta. Então, eu fiz uma vigia noturna pra ver com meus próprios olhos, e ela tá certa, ele tem saído escondido quase toda noite ultimamente e agora, ele fugiu de casa.'
Eu engoli em seco, sentada na beira da cama com os cotovelos apoiados nos joelhos. Isso não fazia parte do plano.
'Eu pretendo achar ele e vou achar. Não se preocupa, ele vai ficar bem,' a voz do Preston estava pesada de preocupação e eu podia ouvir o quão cansado ele estava.
'Valeu por me manter informada, Pres. Te devo uma,' eu suspirei, meus ombros caindo ainda mais.
'Você não me deve nada, Case. Você fez a coisa certa. Meu irmão vai ficar bem, não se preocupa,' com isso, ele desligou a ligação e eu me joguei na cama.
'Será que eu fiz mesmo?' eu perguntei pro quarto vazio.
Eu tomei essa decisão pensando que ele ia voltar pra rotina dele antes de me conhecer. Eu cortei todos os laços pra mantê-lo longe de todo o perigo que parece me assombrar. Eu sabia que não era justo com ele porque eu fiz isso sem consultar ele, mas era pro bem dele.
Eu ia colocar todo mundo em perigo se eu ficasse por perto.
A família se mudou pro outro lado da cidade, que ficava a uma hora de distância de onde eu estava e eles transferiram o Adam pra outra escola pra eu não precisar ver ele todo dia e desviar dele nos corredores a cada minuto.
Claro que eu visito uma vez por mês pra encontrar as crianças, o Jerry e o Preston, mas eu me certifiquei de que o Adam estivesse na casa de alguém toda vez que eu ia. Era pro bem dele.
'É mesmo?' minha consciência mordeu. Minha vontade de ficar longe estava lentamente desmoronando.
Eu continuei repetindo que isso era o melhor; que era pela segurança dele; só pra me convencer e me agarrar àquele fio que me impedia de ir até ele, mas a dúvida estava me alcançando.
Nada faz sentido mais. O que tá errado comigo? Ele é só um cara; só um cara.
'Um cara que você ama,' minha consciência me lembrou e eu peguei um travesseiro pra enfiá-lo no rosto e abafar meu gemido. Droga.
Eu vou só visitar. Logo depois da formatura, eu vou fazer o Preston convencer ele a ter uma noite de caras com os amigos dele e eu vou encontrar as crianças e passar um tempo com elas. Talvez se eu me lembrasse de quem eu estava tentando proteger, mantendo minha distância, minha vontade se solidificaria de novo.
Então aqui estava eu, esperando minha vez de ser chamada ao palco, receber aquele diploma e vazar desse lugar pra ter aquele recomeço com caras novas e a falta de dramas que uma faculdade proporciona.
Sem Adam.
Eu suspirei com meus próprios pensamentos; porra de consciência.
A fila andou e logo, os estudantes finalmente estavam sendo chamados ao palco. Eu limpei as mãos suadas no vestido de formatura que cobria o vestido que a Mãe comprou pra mim.
Meus Pais tinham adiado a viagem de negócios e mudaram a data da partida deles pra essa tarde, depois da cerimônia de formatura. Foi fofo porque eu sabia que eles estavam constantemente preocupados com os negócios.
Eu subi as escadas lentamente, tentando não pisar no meu próprio vestido com esses saltos assassinos e tropeçar antes de quebrar meu pescoço. Eu dei uma olhada rápida na multidão e vi meus dois Pais radiantes pra mim, com minha mãe segurando o telefone pra gravar tudo.
Eu corei, pensando em quão ridícula eu devo estar com esse penteado e maquiagem. Essa não sou eu, mas é só por alguns momentos; eu vou sobreviver.
Andando mais para o palco, o som que meus saltos fizeram quando bateram na superfície dura me fez franzir a testa levemente. Logo, eu estava cara a cara com o próprio Diretor, que sorriu calorosamente pra mim, me parabenizou e me entregou o certificado enquanto movia a cordinha pendurada no meu chapéu de formatura para a direita.
Imediatamente, eu pude sentir um leve peso sendo tirado dos meus ombros.
Eu consegui. Eu sobrevivi ao ensino médio.
Nós viramos e encaramos o Cinegrafista que tirou nossa foto e, por um segundo, outra coisa chamou minha atenção.